JUSTIFICATIVA: Considerando os princípios e conceitos do Documento SME ”Mais Educação São Paulo”- Programa de Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de Ensino de São Paulo 2013, onde “as crianças, os jovens e os adultos do Município de São Paulo são sujeitos de direitos de aprendizagem, cujas garantias cabem às instituições que zelam pela educação pública no Município” é fundamental que os educadores compreendam que o desafio maior da escola é conceber a singularidade de cada estudante como algo natural. O conhecimento teórico – prático em relação às deficiências, aos Transtornos Globais do Desenvolvimento/TGD e Altas Habilidades/Superdotação colabora na desmistificação do desenvolvimento desses estudantes.
OBJETIVOS: Sensibilizar a equipe escolar quanto à importância da organização das Unidades Educacionais para atenderem a singularidade dos alunos; oferecer subsídios para práticas, ações pedagógicas, estratégias e intervenções inovadoras, para garantir ensino com qualidade dos estudantes com deficiência, TGD e Altas Habilidades/Superdotação nas Unidades Educacionais; Disseminar o conhecimento da Educação Especial sobre o processo de ensino e aprendizagem destes estudantes; Refletir sobre o direito de aprendizagem dos estudantes da Educação Especial, na perspectiva do “Programa Mais Educação São Paulo”, por meio de estudos de caso reflexivo e construção de materiais.
CONTEÚDO: Legislação, concepções, princípios e diretrizes da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva; avaliação para a aprendizagem; fundamentos teóricos e práticos do processo de escolarização das crianças, adolescentes, jovens e adultos com deficiências (intelectual, física, auditiva, múltipla e visual), Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação.
Encontro - 07/04/2015
Neste primeiro encontro foram abordados assuntos referentes ao contexto histórico da legislação pertinente à Educação Especial.
Em seguida, os estudos foram aprofundados na área da deficiência intelectual com exemplificações, dinâmicas e estudo de caso seguido da discussão e da apresentação do mesmo.
Disbicicléticos
Por Emilio Ruiz Rodriguez*
Dani é uma criança que não sabe andar de bicicleta. Todas as outras
crianças do seu bairro já andam de bicicleta; os da sua escola já andam
de bicicleta; os da sua idade já andam de bicicleta. Foi chamado um
psicólogo para que estude seu caso. Fez uma investigação, realizou
alguns testes (coordenação motora, força, equilíbrio e muitos outros;
falou com seus pais, com seus professores, com seus vizinhos e com seus
colegas de classe) e chegou a uma conclusão: esta criança tem um
problema, tem dificuldades para andar de bicicleta. Dani é
disbiciclético.
Agora podemos ficar tranqüilos, pois já temos um diagnóstico. Agora
temos a explicação: o garoto não anda de bicicleta porque é
disbiciclético e é disbiciclético porque não anda de bicicleta. Um
círculo vicioso tranqüilizador. Pesquisando no dicionário, diríamos que
estamos diante de uma tautologia, uma definição circular. “Por qué la
adormidera duerme? La adormidera duerme porque tiene poder dormitivo”.
Pouco importa, porque o diagnóstico, a classificação, exime de
responsabilidade aqueles que rodeiam Dani. Todo o peso passa para as
costas da criança. Pouco podemos fazer. O garoto é disbiciclético! O
problema é dele. A culpa é dele. Nasceu assim. O que podemos fazer?
Pouco importa se na casa de Dani seus pais não tivessem tempo para
compartilhar com ele, ensinando-o a andar de bicicleta. Porque para
aprender a andar de bicicleta é necessário tempo e auxílio de outras
pessoas.
Pouco importa que não tenham colocado rodinhas auxiliares ao começar a
andar de bicicleta. Porque é preciso ajuda e adaptações quando se está
começando. Pouco importa que não haja, nas redondezas de sua casa,
clubes esportivos com ciclistas com quem ele pudesse se relacionar, ou
amigos ciclistas no bairro que o motivassem. Porque, para aprender a
andar de bicicleta não pode faltar motivação e vontade de aprender. E
pessoas que incentivem!
Pouco importa, enfim, que o garoto não tivesse bicicleta porque seus
pais não puderam comprá-la. Porque para aprender a andar de bicicleta é
preciso uma bicicleta. (Felizmente, os pais de Dani, prevendo a
possibilidade de seu filho ser disbiciclético, preferiram não comprar
uma bicicleta até consultar um psicólogo.)
Transportando este exemplo para o campo da síndrome de Down, o
processo é semelhante. Desde quando a criança é muito pequena, apenas um
recém-nascido, é feito um diagnóstico – trissomia do cromossomo 21 –
por um médico especialista, e verificado, com uma prova científica, o
cariótipo. A partir disso, entramos em um círculo vicioso no qual os
problemas justificam o diagnóstico, o qual, por sua vez, é justificado
pelos problemas. Por que a criança não cumprimenta, não diz bom-dia
quando chega, nem adeus quando vai embora? “É que ela tem síndrome de
Down”. Ah, bom! Achei que era mal-educada.
Por que a criança não se veste sozinha, e sua mãe a veste e despe
todos os dias, se já tem oito anos? “É que ela tem síndrome de Down”.
Ah, bom! Pensei que não lhe tinham ensinado.
Por que continua a tomar mamadeiras se já tem seis anos? “É que ela
tem síndrome de Down”. Ah, bom! Imaginei que era comodismo de seus pais.
Por que a criança não sabe ler? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não lhe haviam ensinado.
Por que não anda de ônibus ? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não lhe permitiam fazer isso.
E, assim, uma lista interminável de supostas dificuldades que, por
estarem justificadas pela síndrome de Down, não necessitam de nenhuma
intervenção, além da resignação. Todas as suas dificuldades se devem à
síndrome de Down.
Podemos estender a qualquer outra deficiência em que o diagnóstico
médico ou psicológico possa ser utilizado como desculpa para nos
eximirmos de responsabilidades. Se classificamos a criança como
disfásica, disléxica, discalcúlica, disgráfica, deficiente visual ou
auditiva, mental ou motora, disártrica ou simplesmente disbiciclética,
estamos fazendo algo mais do que “colocar um nome” no que pode acontecer
com uma criança. Estamos criando expectativas naqueles que a cercam.
Por isso, eu sugiro que antes de comprar uma bicicleta para seu filho
ou sua filha, comprove que não sejam disbicicléticos. Não vá que
aconteça imediatamente após a compra dar-se conta de que se jogou
dinheiro fora.
* Psicólogo da Fundação Down Cantabria
Fonte: zerohora.com
Publicado origanalmente em espanhol em http://www.downcantabria.com/revistapdf/85/73-74.pdf
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